Confinamento na pandemia acelerou envelhecimento cerebral de adolescentes, revela estudo da University of Washington

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Por João Silva
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Cérebro abstrato com símbolos de avanço rápido e calendário.

São PauloDurante a pandemia de COVID-19, governos de todo o mundo implementaram medidas como o isolamento social e o fechamento de escolas para conter a disseminação do vírus. Essas mudanças impactaram significativamente a saúde mental dos adolescentes. A adolescência é um período crucial para o desenvolvimento emocional, comportamento e habilidades sociais, e a convivência com amigos é fundamental. A redução do tempo com amigos aumentou a ansiedade, depressão e estresse entre os adolescentes, especialmente entre as meninas.

Pesquisadores da Universidade de Washington descobriram o seguinte:

  • A pandemia acelerou a maturação cerebral em adolescentes.
  • Esse efeito foi mais acentuado em meninas, com uma aceleração média de 4,2 anos no desenvolvimento cerebral.
  • Nos meninos, a aceleração média foi de 1,4 anos.
  • Estresse crônico e adversidades levam ao afinamento cortical, associado a transtornos neuropsiquiátricos.

Esses resultados mostram que a pandemia afetou mais do que apenas a saúde mental; ela também impactou o desenvolvimento do cérebro. Normalmente, a camada externa do cérebro, conhecida como córtex cerebral, vai se tornando mais fina com o passar dos anos. No entanto, o estresse causado pela pandemia acelerou esse processo. Nas mulheres, essa diminuição aconteceu por todo o cérebro, enquanto nos homens, foi mais concentrada na parte que processa informações visuais.

O desenvolvimento rápido pode levar adolescentes a enfrentarem ansiedade e depressão em idades mais jovens. Como esses problemas de saúde mental geralmente surgem durante a adolescência, a pesquisa aponta para um futuro preocupante em relação ao bem-estar mental deles.

O impacto varia entre meninos e meninas devido à maneira como eles interagem e lidam com as emoções. Adolescentes do sexo feminino geralmente valorizam conversar e compartilhar sentimentos, algo que foi interrompido durante os confinamentos. Já os meninos tendem a brincar de jogos físicos com amigos, o que também foi afetado, mas isso pode não levar às mesmas mudanças no cérebro.

Ainda não está claro se haverá recuperação. Embora a retomada das atividades sociais normais possa ajudar a desacelerar o problema, são necessárias mais pesquisas para entender os efeitos a longo prazo. Especialistas também estão interessados em descobrir se o impacto da pandemia nas habilidades cognitivas, semelhante ao que ocorre em adultos mais velhos, também pode afetar os adolescentes.

Este estudo levanta questões importantes sobre como grandes rupturas afetam o desenvolvimento do cérebro adolescente. O envelhecimento acelerado do cérebro pode impactar diversas áreas da vida, como a estabilidade emocional e habilidades cognitivas. Isso ressalta a necessidade de encontrar maneiras de ajudar os adolescentes afetados no futuro.

A pandemia evidenciou a fragilidade dos cérebros dos adolescentes e a importância dos ambientes sociais para o seu desenvolvimento saudável. À medida que superamos os lockdowns, é crucial compreender e abordar essas mudanças para ajudar os jovens a manterem-se bem.

O estudo é publicado aqui:

http://dx.doi.org/10.1073/pnas.2403200121

e sua citação oficial - incluindo autores e revista - é

Neva M. Corrigan, Ariel Rokem, Patricia K. Kuhl. COVID-19 lockdown effects on adolescent brain structure suggest accelerated maturation that is more pronounced in females than in males. Proceedings of the National Academy of Sciences, 2024; 121 (38) DOI: 10.1073/pnas.2403200121
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