A revolução do trigo: como a diversidade genética moldou a civilização

Tempo de leitura: 2 minutos
Por João Silva
- em
Ferramentas agrícolas antigas ao lado de pão fresco e trigo.

São PauloO trigo de pão tem desempenhado um papel crucial na história humana. Estudos recentes revelam que essa cultura foi fundamental tanto para antigas sociedades quanto para a agricultura moderna. Pesquisas do Consórcio Aberto de Trigo Selvagem (OWWC) identificaram que a diversidade genética do trigo de pão, especialmente derivada da espécie de grama selvagem Aegilops tauschii, foi essencial para seu sucesso.

Trigo pão é uma planta que possui uma combinação de três conjuntos diferentes de genes, denominados A, B e D. O conjunto D provém de uma planta chamada Aegilops tauschii. Esse cruzamento ocorreu entre 8.000 e 11.000 anos atrás no Crescente Fértil. As principais descobertas da pesquisa podem ser resumidas da seguinte forma:

  • O trigo pão surgiu de uma hibridação envolvendo a espécie Aegilops tauschii.
  • Essa diversidade genética permitiu ao trigo pão se adaptar a diferentes climas e tipos de solo.
  • O estudo utilizou um painel de diversidade com 493 acessos únicos para criar um Pangenoma.

Esta pesquisa é fundamental porque revela como o trigo de pão se espalhou rapidamente por diversas regiões. Normalmente, a limitada variedade genética e a autopolinização do trigo de pão dificultariam sua adaptação. No entanto, a incorporação de material genético de diferentes tipos de Aegilops tauschii possibilitou seu crescimento bem-sucedido ao redor do mundo.

Pesquisadores de diversos países uniram esforços neste estudo. Eles analisaram 80.000 variedades de trigo de pão de todo o mundo. Aproximadamente 75% do genoma D do trigo de pão vem de um tipo de grama próxima ao Mar Cáspio do Sul, chamada Aegilops tauschii. Os outros 25% provêm de gramíneas encontradas em regiões que vão da Turquia à China. Essa diversidade genética ajuda o trigo de pão a sobreviver e prosperar em diferentes condições.

A diversidade no trigo de pão ajudou a torná-lo um cultivo essencial na agricultura e moldou as sociedades antigas. O cultivo de trigo de pão permitiu a formação de comunidades agrícolas estáveis, capazes de sustentar mais pessoas. Com a fixação dessas populações, houve espaço para outras melhorias culturais, levando ao desenvolvimento de civilizações.

A pesquisa atual é extremamente valiosa. Cientistas estão utilizando dados de Pangenoma e germoplasma para descobrir novos genes capazes de ajudar o trigo a resistir a doenças, como a ferrugem do trigo. Isso pode proteger as plantações de problemas sérios. Além disso, eles procuram genes que suportem diferentes climas, garantindo que o trigo cresça bem apesar das mudanças climáticas.

A importância de preservar os recursos genéticos

Manter os recursos genéticos continua a ser essencial. Instituições como o John Innes Centre protegem antigas coleções de gramíneas selvagens. Essas coleções são fundamentais para o desenvolvimento de novas variedades de trigo com características como resistência a doenças e pragas. O acompanhamento das mudanças genéticas, como as identificadas apenas na Geórgia, destaca a relevância de preservar esses recursos genéticos para futuras melhorias na agricultura.

A história genética do trigo de pão envolve tanto a mistura de espécies antigas quanto sua contínua adaptação e melhoria, tornando-o uma parte essencial da civilização humana.

O estudo é publicado aqui:

http://dx.doi.org/10.1038/s41586-024-07808-z

e sua citação oficial - incluindo autores e revista - é

Emile Cavalet-Giorsa, Andrea González-Muñoz, Naveenkumar Athiyannan, Samuel Holden, Adil Salhi, Catherine Gardener, Jesús Quiroz-Chávez, Samira M. Rustamova, Ahmed Fawzy Elkot, Mehran Patpour, Awais Rasheed, Long Mao, Evans S. Lagudah, Sambasivam K. Periyannan, Amir Sharon, Axel Himmelbach, Jochen C. Reif, Manuela Knauft, Martin Mascher, Nils Stein, Noam Chayut, Sreya Ghosh, Dragan Perovic, Alexander Putra, Ana B. Perera, Chia-Yi Hu, Guotai Yu, Hanin Ibrahim Ahmed, Konstanze D. Laquai, Luis F. Rivera, Renjie Chen, Yajun Wang, Xin Gao, Sanzhen Liu, W. John Raupp, Eric L. Olson, Jong-Yeol Lee, Parveen Chhuneja, Satinder Kaur, Peng Zhang, Robert F. Park, Yi Ding, Deng-Cai Liu, Wanlong Li, Firuza Y. Nasyrova, Jan Dvorak, Mehrdad Abbasi, Meng Li, Naveen Kumar, Wilku B. Meyer, Willem H. P. Boshoff, Brian J. Steffenson, Oadi Matny, Parva K. Sharma, Vijay K. Tiwari, Surbhi Grewal, Curtis J. Pozniak, Harmeet Singh Chawla, Jennifer Ens, Luke T. Dunning, James A. Kolmer, Gerard R. Lazo, Steven S. Xu, Yong Q. Gu, Xianyang Xu, Cristobal Uauy, Michael Abrouk, Salim Bougouffa, Gurcharn S. Brar, Brande B. H. Wulff, Simon G. Krattinger. Origin and evolution of the bread wheat D genome. Nature, 2024; DOI: 10.1038/s41586-024-07808-z
Ciência: Últimas notícias
Leia mais:

Compartilhar este artigo

Comentários (0)

Publicar um comentário