Novo estudo desafia ideia de 'igreja doméstica' cristã em Dura-Europos

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Por Bia Chacu
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Antigas muralhas de Dura-Europos com artefatos em exposição

São PauloUm estudo recente publicado no Journal of Roman Archaeology sugere que um antigo edifício em Dura-Europos, frequentemente considerado a mais antiga igreja doméstica cristã, pode não ter sido uma casa tradicional. Os pesquisadores Camille Leon Angelo, de Yale, e Joshua Silver, da Universidade de Manchester, destacam mudanças importantes na estrutura do edifício que não são típicas das residências da região. Isso desafia as visões há muito consolidadas sobre os locais de culto dos primeiros cristãos.

O estudo revelou várias diferenças importantes entre este edifício e outras residências em Dura-Europos: não possuía uma cisterna para armazenamento de água como as outras casas, o andar térreo foi modificado para criar uma grande sala e um pequeno batistério, tinha pinturas nas paredes com figuras, algo raro em lares comuns, e a circulação interna era diferente da das casas típicas.

Os pesquisadores analisaram como a luz solar impactava o edifício. Os testes revelaram que as reformas permitiram a entrada de mais luz solar nos cômodos, possibilitando que as pessoas realizassem atividades durante o dia sem precisar de iluminação elétrica. Isso contrasta com a maioria das residências, que utilizam lâmpadas ou velas com mais frequência.

Leon Angelo acredita que precisamos reavaliar o que sabemos sobre os espaços de culto dos primeiros cristãos. Atualmente, muitos imaginam que esses cristãos usavam suas casas para adoração, conforme descrito no Novo Testamento. No entanto, sua pesquisa revela que o “edifício cristão” em Dura-Europos não era uma residência quando utilizado para atividades religiosas.

Repensar essa questão tem impactos mais amplos. Se este edifício não era uma igreja doméstica, o que isso significa para nossa compreensão do culto cristão primitivo? Sugere que os grupos cristãos antigos podem ter tido construções mais avançadas e espaços religiosos mais definidos mais cedo do que pensávamos. Isso também poderia mudar a forma como vemos outros edifícios considerados igrejas domésticas.

As descobertas dificultam a compreensão das primeiras comunidades cristãs e sugerem uma análise cuidadosa das evidências arqueológicas dessa época. Com projetos em andamento, como o International Digital Dura-Europos Archive (IDEA), os pesquisadores terão mais ferramentas para reavaliar a história e os artefatos desses grupos antigos.

Estudar essas estruturas sem utilizar conceitos modernos proporciona uma visão mais clara e precisa da vida e culto dos primeiros cristãos. Isso incentiva os pesquisadores a explorar melhor como os cristãos primitivos utilizavam e percebiam seus espaços religiosos, em vez de aplicar perspectivas posteriores a eles.

O estudo é publicado aqui:

http://dx.doi.org/10.1017/S1047759424000126

e sua citação oficial - incluindo autores e revista - é

Camille Leon Angelo, Joshua Silver. Debating the domus ecclesiae at Dura-Europos: the Christian Building in context. Journal of Roman Archaeology, 2024; 1 DOI: 10.1017/S1047759424000126
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