Estudo revela: aves oceânicas seguem ciclones para aproveitar oportunidades de alimentação

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Por Alex Morales
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Aves marinhas voando perto de um ciclone oceânico giratório.

São PauloUm estudo publicado na revista Current Biology revelou que os Petreis-das-Desertas, uma rara ave marinha do Atlântico Norte, não evitam ciclones tropicais. Em vez disso, eles seguem estas tempestades para aproveitar as condições que elas criam.

Pontos Principais:

  • Os Petreis-das-Desertas não evitam ciclones tropicais.
  • Eles aproveitam as condições para se alimentar.
  • As aves viajam milhares de quilômetros seguindo as tempestades.

Estudo revela que durante a temporada de furacões, os Petreis-das-Desertas possuem um método único para encontrar alimento. Diferente de outras aves marinhas, eles aproveitam os ciclones, utilizando os ventos e os padrões de ondas para facilitar a busca por comida.

Francesco Ventura, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (WHOI), é o autor principal do estudo. Ele afirma que um terço das aves monitoradas seguiu o ciclone, percorrendo longas distâncias. Ventura destaca que os dados foram surpreendentes, pois esse comportamento nunca havia sido observado antes.

Caroline Ummenhofer, cientista da WHOI, observa que as aves utilizam habilmente os padrões de vento no Atlântico Norte. Suas viagens de alimentação se alinham com as condições médias de vento durante tempestades. Esse comportamento oferece novos entendimentos sobre como ciclones afetam a vida marinha no oceano aberto.

Pardela-de-bugio: Aves Raras de Portugal

A Pardela-de-bugio aninha-se exclusivamente na Ilha do Bugio, em Portugal, com menos de 200 casais. Durante a temporada de reprodução, que dura seis meses, elas percorrem até 12.000 quilômetros pelo Atlântico em busca de alimento. Essas aves marinhas pertencem ao gênero Pterodroma, cujo nome significa "asas que correm".

Ventura afirma que durante tempestades fortes, os pássaros voam mais devagar para evitar se machucar e encontrar melhores condições de vento. Nenhuma das aves monitoradas se feriu e todas permaneceram em seus ninhos. Isso demonstra que esses pássaros estão muito bem adaptados a condições climáticas extremas.

Os petreis se alimentam de peixes pequenos, lulas e crustáceos. Eles não conseguem mergulhar profundamente, então caçam à noite quando suas presas chegam mais perto da superfície. Um estudo revelou que, após furacões, suas presas se agrupam próximo à superfície, facilitando a busca por alimento desses pássaros.

Pesquisas indicam que após um ciclone, a água fica mais fria e com maior quantidade de clorofila, o que sinaliza uma melhor mistura e maior produtividade no oceano. Isso facilita a alimentação dos petréis.

Philip Richardson do WHOI afirma que ventos fortes e ondas grandes misturam o oceano, trazendo água mais fria e profunda para a superfície. Essa mistura levanta nutrientes da camada intermediária do oceano, facilitando a busca de alimento para os petreis.

Ventura destaca que tempestades, apesar de muitas vezes prejudiciais, podem abrir novas oportunidades para as aves. Essas mudanças ajudam os petréis a se orientarem e a encontrar alimento no oceano.

De acordo com Ummenhofer, este estudo oferece novas perspectivas sobre como os furacões afetam a vida marinha. Ele mostra que as aves de mar aberto são resilientes e adaptam seus hábitos alimentares durante tempestades severas.

Os ciclones são conhecidos por afetarem ecossistemas costeiros e oceânicos, mas seu impacto na vida marinha em alto-mar é menos compreendido. Este estudo revela que predadores de topo, como os Petreis das Desertas, adaptam seus hábitos alimentares em resposta às mudanças oceânicas causadas por ciclones, aproveitando essas alterações em seu benefício.

A pesquisa foi financiada pelo Programa de Bolsas de Pós-Doutorado da WHOI e outros fundos, incluindo o Fundo John E. Sawyer, o Fundo John H. Steele e o Fundo Dotado da Fundação Andrew W. Mellon para Pesquisa Inovadora na WHOI.

O estudo é publicado aqui:

http://dx.doi.org/10.1016/j.cub.2024.06.022

e sua citação oficial - incluindo autores e revista - é

Francesco Ventura, Neele Sander, Paulo Catry, Ewan Wakefield, Federico De Pascalis, Philip L. Richardson, José Pedro Granadeiro, Mónica C. Silva, Caroline C. Ummenhofer. Oceanic seabirds chase tropical cyclones. Current Biology, 2024; DOI: 10.1016/j.cub.2024.06.022
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