Estudo revela como combater fungo mortal que ameaça morcegos na América do Norte

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Por Bia Chacu
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Morcegos em caverna com tratamento de fungo fluorescente visível.

São PauloCientistas estão avançando na compreensão de como um fungo nocivo está matando muitos morcegos na América do Norte. O fungo, chamado Pseudogymnoascus destructans, causa a síndrome do nariz branco e vem prejudicando várias espécies de morcegos desde que foi descoberto em Nova York em 2006. Esta nova pesquisa auxilia na busca por melhores formas de tratar e prevenir a doença.

Pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison, liderados por Bruce Klein e Marcos Isidoro-Ayza, descobriram como um certo fungo infecta morcegos. Eles identificaram que o fungo utiliza uma proteína chamada receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) para penetrar nas células da pele dos morcegos. Essa descoberta pode ser crucial para desenvolver tratamentos utilizando medicamentos como gefitinibe, já aprovado para tratar câncer de pulmão em humanos com mutações no EGFR.

Principais resultados do estudo incluem:

  • O fungo impede que as células infectadas morram, ajudando-o a escapar do sistema imunológico dos morcegos.
  • Ele sequestra as células durante a hibernação, quando o sistema imunológico dos morcegos está inativo.
  • O fungo cresce endociticamente e utiliza esporos revestidos de melanina para sobreviver a períodos em que os morcegos acordam.
  • O fungo pode bloquear a morte programada das células para se espalhar em camadas mais profundas da pele.

A equipe desenvolveu a primeira linha de células de pele de um morcego marrom. Eles também recriaram condições de hibernação no laboratório ajustando as temperaturas para coincidir com as que os morcegos enfrentam. Isso ajudou a entender como o fungo sobrevive no frio e continua ativo quando os morcegos acordam.

Este é um grande avanço. A síndrome do nariz branco já matou milhões de morcegos, desestabilizando ecossistemas e impactando a agricultura, pois esses animais consomem muitos insetos. Encontrar uma maneira de atacar o EGFR traz esperança de um tratamento eficaz.

Durante a hibernação dos morcegos, o fungo adota diferentes estratégias. Quando os morcegos estão em torpor e seus corpos estão frios, o fungo penetra nas células através de estruturas filamentosas. Porém, quando os morcegos despertam e seus corpos se aquecem, o fungo faz com que as células o absorvam para sobreviver. Essa adaptação permite que o fungo suporte temperaturas mais altas e um sistema imunológico ativo, tornando-se extremamente difícil de eliminar.

O revestimento de melanina nos esporos de fungos os protege da destruição quando os morcegos estão em atividade. Isso permite que o fungo sobreviva e volte a crescer quando as condições são favoráveis. Compreender esse mecanismo pode ajudar a desenvolver estratégias para proteger morcegos e outros animais afetados por infecções fúngicas.

Este estudo contou com uma colaboração conjunta e recebeu significativo apoio financeiro de várias organizações, incluindo a Fundação Nacional de Ciência e a Fundação Família Paul G. Allen. Esses investimentos são cruciais. Não só ajudam os morcegos, mas também podem beneficiar outras espécies enfrentando ameaças fúngicas.

É animador ver que estamos nos aproximando de encontrar uma solução para a síndrome do nariz branco. Ainda há muito para aprender, mas essas descobertas podem levar a tratamentos ou até mesmo a uma vacina no futuro. Essa pesquisa pode ter um grande impacto e nos ajudar a encontrar novas maneiras de proteger a vida selvagem contra fungos nocivos.

O estudo é publicado aqui:

http://dx.doi.org/10.1126/science.adn5606

e sua citação oficial - incluindo autores e revista - é

Marcos Isidoro-Ayza, Bruce S. Klein. Pathogenic strategies of Pseudogymnoascus destructans during torpor and arousal of hibernating bats. Science, 2024; 385 (6705): 194 DOI: 10.1126/science.adn5606
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