O papel do MUC1 e da hipóxia na adaptação silenciosa do câncer

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Por João Silva
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Células tumorais com genes-alvo potenciais destacados.

São PauloPesquisadores do Centro de Câncer Kimmel da Johns Hopkins descobriram uma conexão crucial entre áreas de baixo oxigênio em tumores, conhecidas como hipóxia, e a disseminação do câncer. Eles identificaram 16 genes específicos que ajudam as células de câncer de mama a sobreviver, especialmente após saírem dessas zonas de baixa oxigênio. Esta pesquisa oferece novos alvos potenciais para terapias que previnam a recorrência do câncer e proporciona uma compreensão mais profunda de como o câncer se adapta.

Tumores frequentemente apresentam áreas com baixo nível de oxigênio, e isso não é apenas um problema passageiro; é uma condição persistente que influencia o comportamento das células cancerígenas. Nessas áreas pobres em oxigênio, as células se transformam e se fortalecem, levando-as a migrar para locais com mais oxigênio, como a corrente sanguínea. Este estudo revela que as células cancerígenas "lembram-se" de terem estado em ambientes com pouco oxigênio. Mesmo quando se movem para áreas mais oxigenadas, elas continuam a expressar certos genes que as ajudam a sobreviver e se espalhar para outras partes do corpo.

Pesquisa destaca genes importantes como o MUC1, que auxiliam na adaptação do câncer. O MUC1 é especialmente relevante, pois já está sendo avaliado em ensaios clínicos, sugerindo que pode ser um alvo crucial para impedir a disseminação do câncer. Compreender como o MUC1 e outros genes ajudam as células cancerígenas a lidar com espécies reativas de oxigênio (ROS) é essencial para entender como o câncer sobrevive em diferentes áreas do corpo.

No estudo realizado:

Uso da Transcriptômica Espacial para Descobertas Sobre o Câncer de Mama

Cientistas aplicaram a transcriptômica espacial para identificar genes ativados em regiões tumorais de baixa oxigenação. Eles descobriram que alguns desses genes continuam ativos quando as células cancerígenas se deslocam para áreas ricas em oxigênio. Entre esses genes, o MUC1 foi destacado como crucial, especialmente em formas agressivas de câncer de mama.

Compreender como baixos níveis de oxigênio (hipóxia) afetam o câncer pode ajudar a desenvolver tratamentos para interromper a progressão da doença logo no início. Ao direcionar-se para genes como o MUC1, podemos tentar impedir que o câncer sobreviva em condições de baixa oxigenação. Isso poderia reduzir as chances de metástase, especialmente em tipos como o câncer de mama triplo-negativo, que frequentemente reaparece.

Estudo Destaca Diferenças Cruciais entre Modelos de Laboratório e Tumores Humanos

Esta pesquisa ressalta as diferenças entre modelos de laboratório e tumores humanos reais. Em ambientes laboratoriais, a atividade genética tende a voltar ao normal com a adição de oxigênio, ao contrário das mudanças duradouras observadas em tumores vivos. Essa diferença evidencia a importância de desenvolver tratamentos que abordem as condições de baixa oxigenação, comuns em muitos tumores humanos.

Compreender o comportamento do câncer em áreas com baixo teor de oxigênio é crucial para acompanhar sua progressão. Pesquisas e ensaios clínicos em andamento, como os que envolvem a MUC1, trazem esperança para o desenvolvimento de novos tratamentos contra o câncer.

O estudo é publicado aqui:

http://dx.doi.org/10.1038/s41467-024-51995-2

e sua citação oficial - incluindo autores e revista - é

Inês Godet, Harsh H. Oza, Yi Shi, Natalie S. Joe, Alyssa G. Weinstein, Jeanette Johnson, Michael Considine, Swathi Talluri, Jingyuan Zhang, Reid Xu, Steven Doctorman, Delma Mbulaiteye, Genevieve Stein-O’Brien, Luciane T. Kagohara, Cesar A. Santa-Maria, Elana J. Fertig, Daniele M. Gilkes. Hypoxia induces ROS-resistant memory upon reoxygenation in vivo promoting metastasis in part via MUC1-C. Nature Communications, 2024; 15 (1) DOI: 10.1038/s41467-024-51995-2
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